Enquanto ele lentamente desistia

O tempo passa rápido demais, os dias apesar de estarem sendo vividos, possuem sempre um amargo de fel, uma saudade manifesta em lágrimas, uma dor na ausência de sorriso e uma procura que leva à absolutamente nada, detalhes que se perdem, sim pequenos, mas o suficiente pra te trazer de volta, a dor do respirar que se cessa da vida que se encerra, jovialidade que se consome em algo que nada explica....Uma falta atormentável de alguém que te conhecia tal como a palma da mão, que viveu com você seus melhores e piores dias, que sabia todos os segredos do seu coração...
E você entende o porque SAUDADES NÃO TEM TRADUÇÃO exata, definida e expressa, as definições encontradas nos dicionário são rasasfalhas e insignificantes diante do que de fato se sente.... Os hábitos possuem poder de fazer-nos viver no piloto automático, faz se algo porque aquela pessoa gostava, prepara uma comida porque a pessoa gostava,mesmo sabendo que a mesma pessoa não vira, não irá te  irritar,o sorriso dela não mais encherá de alegria tua vida que agora e como a terra enquanto Deus a criava SEM FORMA VAZIA ... Vive-se apenas e porquê ainda há lutas a serem travadas, batalhas a serem dueladas... Vive-se apenas porquê ainda há o que se viver...
Vive-se sim, mas sendo agora apenas metade, metade de uma tensão que nos corrói por dentro, metade do sorriso que herdamos da infância. E por falar em infância...
Choramos juntos e não foi pouco, compartilhamos mais que um quilo e meio de sal, fizemos plural de nossa solidão,em minha quietude agitada, você era a verbalização em carne do que nunca dizia, alegando sempre "o que se sente e não se fala e porque se sente e não fala, porque palavras são só palavras..."
Será que a vida é apenas uma metáfora pra o que sentimos e não falamos? Ele não disse eu te amo mas partiu,assim como um soldado e sua armadura de pedra com coração de bronze, subestimando o reconforto de tais simples palavra. Mas que a reconfortaria, três simples palavrinhas que se diz quando se sente, mas que muitos sentem e não diz... Ele era a força dela e ela era a cuidadora de tudo pra o "Bem" dele... Ele chorava no chuveiro e ela na cama, hoje ele é só a lembrança que ela chora em qualquer canto da casa, que de pequena se tornou grande, hoje ele é apenas um número em um sistema do governo, uma morte a mais no trânsito, uma família a mais incompleta, um número em um túmulo, agora repousa em outra cama, um número... E ela? Bem ela... Grita o silêncio , a vida a deformada,escura e fria.... E sente falta do que ele nunca disse...E daquelas três palavrinhas que Ele nunca disse... Falta dele... Falta o ar demasiadas vezes...
Não e irônico que sintamos falta das brigas, dos socos, da bagunça...? Mas,super abundante em ironia ainda existir pessoas que não notaram a fragilidade da vida?  Quando se perde,e à propósito perdemos as pessoas quando elas se vão ou elas apenas retornam ao lugar de onde a vida se inicia? quando deixa de se ter  perto quem era seu pedaço, seu complemento ou simplesmente parte do seu melhor. Seu raio x refletido no espelho do outro... Verso e frente do que atravessa a alma...
Talvez devesse ser possível fotografar de dentro pra fora a agonia, e imprimir o coração afim de achar o defeito e sem anestesia o consertar, contrastar-se em um clarão...
Mas de onde tirou-se a idéias de que o que cala fala mais alto ao coração?
E hoje mais que nunca ela quis ser o raio x dele... E viver também o modo nobre com que ele via tudo, ela sempre foi o incontentamento e ele a falsa inércia esperando o momento em que o próprio universo traria de volta tudo ao seu devido lugar, ela se fez forte por ele e ele se fez inércia, ela surtava quando contrariada e ele se mantinha a própria inercia, não que não sentisse ou incomodasse, apenas dominava a situação, mas nunca deixava a mesma o dominar,eram sim feitos de uma mesma forma, mas eram sim opostos completos, mas o jeito dele consertava ela... Ele bagunceiro e ela com sua bagunça organizada, ela se jogava no sofá pra esperar ele voltar da balada... Hoje ele foi guiando mansamente as águas tranquilas, repousa sobre pastos verdejantes e cruzou com valentia o vale da sombra da morte... Ela soube que os médicos machucaram seu peito, tentando  te trazer de volta, enquanto você lentamente desistia,um soldado sabe quando sua missão foi findada....
Uma lágrima a mais nos olhos dela, enquanto ela tenta se convencer que não há vergonha em chorar é mais fácil... Um medo,a agonia, as  letras perderam as melodias... Partiu, foi se embora, jogou se de cabeça na imensidão, encontrou a tal luz no fim do túnel e apagou a minha... No mais...
A ele não mais dor, não mais sofrer... A ela,não saber o que fazer, morta em sua própria vida, se faz a inércia que ele aprendeu a ser... Inertemente tenta imprimir o coração em película, escura e fria pra combinar com a decoração, inércia que a faz querer atravessar paredes, rir do que não ria, isso desde que soube que eles machucaram seu peito... Perdeu o chão ao  ver-se sem o clarão do seu riso.
E hoje ela sabe que eles machucaram seu peito tentando o trazer a vida enquanto ele L.E.E.E.E.N.N.T.A.A.A.M.E.E.E.N.T.E DESISTIA....

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