Você quase não ficou comigo
Foto: @ricardocoiro |
Eu tenho sérios problemas em lidar com isso, passei tempo demais sendo quem esperavam que eu fosse, até quem em uma bela sessão de psicoterapia eu fui alertada para o fato de que havia mais o crivo do outro sobre mim do que o meu, minha psicóloga me pediu para elaborar pelo menos 6 qualidades que eu via em mim, e 6 que as pessoas viam em mim, foi fazer enumerar o que as pessoas viam em mim, mas quando cheguei a parte de olhar pra mim e eu mesma enumerar e ressaltar o que eu achava legal em mim, rs aí a coisa realmente ficou tensa...
Eu percebi que estava vivendo minha vida conforme o outro esperava que eu vivesse... Tolice né? Mas hoje, só quero mesmo a liberdade de poder ser quem eu sou enquanto aceito quem o OUTRO é, sem “Mas”, sem “porém”, sem pensar se o momento é como esperava que fosse. Quero a liberdade de uma vida cheia de relacionamentos sem frescuras...
Sem alguém torcendo a cara, porque compartilhei algo com uma pessoa e não compartilhei com ela, não quero ter que escolher quem Wanessa levar para as diferentes pessoas que se dispuseram a me dar um espacinho na sua agenda, quero ser eu sem ter que pensar na possibilidade de ser ou não aceita...
Passamos tempo demais tentando agradar a todos, que o se agradar vai ficando de lado, até ser esquecido. E quando se trata de mim, tenho a séria tendência de querer abraçar o mundo com a mão, até que percebi que enquanto eu abraçava o mundo, faltava braço para me abraçar, eu não estava inclusa naquilo que abraçava, logo eu nunca me achava suficiente.... Mas pera aí, não devíamos ser suficiente apenas para nos mesmos, para só enfim deixarmos que nossa totalidade trouxesse quem se interessasse e levasse quem perdesse o tal do interesse? Sim, devíamos, mas na prática a história é outra...
Ser humano é um bichinho incontente, queremos sempre mais, nunca estamos saciados com o alimento que nos é dado, geramos expectativas demais, esperando que o outro, seja capaz de supri-las. Quando na verdade nós é quem deveríamos nos resolver com as expectativas que criamos....
É tão ruim, sair da sua casa, deixar sua cama e os mimos e perrengues do seu lar, e ir pra a casa de um amigo para matar a saudade, jogar tempo fora, colocar em dias as conversas, se desprender da sua realidade, deixar para trás seus problemas, se livrar dessa necessidade de se mostrar, de se Instagramear, de expor a localização, de marcar onde você estava com quem é o que estavam fazendo. É uma competição nada justa: Tudo por nada, e quando você se despede entra no ônibus que te leva de volta a realidade que você deixou, e chega uma mensagem: “Chegastes bem? você quase não ficou comigo.” Quando na verdade parece que você vai pra casa dele pega um pedacinho de você e deixa outro lá... E todo o final de semana é colocado em dúvida por uma frase que te faz repensar se aquela pessoa entendeu o motivo da visita...
Cada vez mais estou certa de que não é uma questão, do tempo que passo com quem amo, mas sim de quanta verdade entrego ao momento em que estou com quem amo, é suficiente pra mim a gargalhada gostosa, a boca que se suja um pouquinho para apelidar a amiga, e suficiente poder não ter muito pudor e colocar os pés na mesa ou no colo do outro, e suficiente a televisão desligada e a luta por quem vai falar mais, me basta mais isso que a sensação de quem algo faltou para o outro...
Só quero não ter que dividir o tempo para alcançar todos, quero a totalidade do momento com quem escolhi estar, sem a cobrança de que foi pouco... Sem fracionar a gratidão da presença... Quero que haja suficiência no pouco que nos é permitido e quero que isso baste, sem mimimi, sem cobranças, sem juros...
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Obrigada por ler, Deus te abençoe grandemente